Mário Marona: “E24 é lição de jornalismo, Profissão Repórter é síntese dos piores defeitos.”
Por Mário Marona
Globo e Band puseram no ar no mesmo horário, na noite de terça-feira, programas jornalísticos com algumas semelhanças:
■ambos adotam linguagem diferente do telejornalismo tradicional praticado no Brasil,
■ambos se esforçam por abordar com alguma profundidade, coisa rara em televisão, a vida das pessoas escolhidas como protagonistas,
■ambos, além disso, têm um estilo de reality show.
No entanto, se têm analogias importantes, E24 (Emergência 24 horas), da Band, e Profissão Repórter, da Globo, distanciam-se num aspecto fundamental: o primeiro é muito bom, o segundo é sofrível.
E24 é uma lição de telejornalismo.
Profissão Repórter é uma síntese dos piores defeitos do telejornalismo brasileiro.
O programa da Band, feito pela produtora Quatro Cabezas, segundo formato adotado em outros países latinos, poupa o telespectador do superficial, do dispensável, da frivolidade típica da televisão. Os personagens predominam. Agem, correm, se estressam, desabafam, se emocionam, choram - e fazem tudo isto com uma naturalidade que dispensa a presença física do repórter. A reportagem está lá, o tempo inteiro, em cada take. O repórter, não. Não há contraplanos, não há passagens. A produção não interfere na cena. O que se vê na tela é documentário em estado puro, sem artificialismos.
Profissão Repórter é o oposto. Os repórteres SÃO o programa. A importância da reportagem parece ser medida pela quantidade de vezes que o repórter terá oportunidade de aparecer. Nele, quem mais fala, ri, se emociona e participa é o repórter. O jornalista é o dono da cena. Há lugar até para metalinguagem: o repórter rouba o tempo do entrevistado e, na cena seguinte, tem o seu tempo roubado pelo diretor, Caco Barcellos. Em casa, somos obrigados a assistir à bronca quase constrangida do “professor Caco” no jovem repórter que, segundo o site do programa, tem como qualidade importante no currículo o fato de ser ator. Deve ser por isso que ele ria mais do que o Carlos Nascimento lendo notícia ruim.
A Globo já proibiu a presença de repórter dentro de salas de cirurgia. Nos velhos tempos, passagem gravada em locais que exigem perfeita assepsia era considerada invasiva, exagerada, desnecessária.
Esta época já passou.
O exibicionismo venceu.
Um diretor maluco da Globo já quis mandar o helicóptero da empresa para salvar um suicida. Foi demitido, duas vezes.
Hoje, seria promovido por botar no ar a reportagem perfeita: com âncora, repórter e nenhuma fonte de informação.
Sobre o autor:
Mário Marona é sócio da empresa de assessoria, produção e consultoria de comunicação Mrmarona Produções Jornalísticas Ltda. Tem 53 anos. É gaúcho. Jornalista há 35 anos. Uma enorme lista de ‘ex-funções’: diretor de jornalismo da Band-Rio, editor-chefe do Jornal do Brasil, diretor de jornalismo da TV Globo em Brasília, editor-chefe do Jornal Nacional (TV Globo),editor-chefe adjunto do Globo, editor-executivo, editor de política, editor de cidade, editor de esportes e chefe de reportagem do Globo.
Globo e Band puseram no ar no mesmo horário, na noite de terça-feira, programas jornalísticos com algumas semelhanças:
■ambos adotam linguagem diferente do telejornalismo tradicional praticado no Brasil,
■ambos se esforçam por abordar com alguma profundidade, coisa rara em televisão, a vida das pessoas escolhidas como protagonistas,
■ambos, além disso, têm um estilo de reality show.
No entanto, se têm analogias importantes, E24 (Emergência 24 horas), da Band, e Profissão Repórter, da Globo, distanciam-se num aspecto fundamental: o primeiro é muito bom, o segundo é sofrível.
E24 é uma lição de telejornalismo.
Profissão Repórter é uma síntese dos piores defeitos do telejornalismo brasileiro.
O programa da Band, feito pela produtora Quatro Cabezas, segundo formato adotado em outros países latinos, poupa o telespectador do superficial, do dispensável, da frivolidade típica da televisão. Os personagens predominam. Agem, correm, se estressam, desabafam, se emocionam, choram - e fazem tudo isto com uma naturalidade que dispensa a presença física do repórter. A reportagem está lá, o tempo inteiro, em cada take. O repórter, não. Não há contraplanos, não há passagens. A produção não interfere na cena. O que se vê na tela é documentário em estado puro, sem artificialismos.
Profissão Repórter é o oposto. Os repórteres SÃO o programa. A importância da reportagem parece ser medida pela quantidade de vezes que o repórter terá oportunidade de aparecer. Nele, quem mais fala, ri, se emociona e participa é o repórter. O jornalista é o dono da cena. Há lugar até para metalinguagem: o repórter rouba o tempo do entrevistado e, na cena seguinte, tem o seu tempo roubado pelo diretor, Caco Barcellos. Em casa, somos obrigados a assistir à bronca quase constrangida do “professor Caco” no jovem repórter que, segundo o site do programa, tem como qualidade importante no currículo o fato de ser ator. Deve ser por isso que ele ria mais do que o Carlos Nascimento lendo notícia ruim.
A Globo já proibiu a presença de repórter dentro de salas de cirurgia. Nos velhos tempos, passagem gravada em locais que exigem perfeita assepsia era considerada invasiva, exagerada, desnecessária.
Esta época já passou.
O exibicionismo venceu.
Um diretor maluco da Globo já quis mandar o helicóptero da empresa para salvar um suicida. Foi demitido, duas vezes.
Hoje, seria promovido por botar no ar a reportagem perfeita: com âncora, repórter e nenhuma fonte de informação.
Sobre o autor:
Mário Marona é sócio da empresa de assessoria, produção e consultoria de comunicação Mrmarona Produções Jornalísticas Ltda. Tem 53 anos. É gaúcho. Jornalista há 35 anos. Uma enorme lista de ‘ex-funções’: diretor de jornalismo da Band-Rio, editor-chefe do Jornal do Brasil, diretor de jornalismo da TV Globo em Brasília, editor-chefe do Jornal Nacional (TV Globo),editor-chefe adjunto do Globo, editor-executivo, editor de política, editor de cidade, editor de esportes e chefe de reportagem do Globo.
Marcadores: band, e24, Globo, profissão repórter
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